“21 de junho.”

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Já não sou mais a mesma,

aos dezessete, num quarto azul,

às vezes, muito vulnerável,

costumava escrever, sobre o impalpável.

Hoje, as palavras particulares perdem-se

nos momentos em que me retiro

e o singular ensina-me

que sempre devo

olhar-me com mais bondade.

Contudo, ainda lembro bem,

veias em chamas, sonhos perdidos,

medos impostos e livros roubados,

a Lua sendo sempre uma boa ouvinte.

Já não sou mais a mesma,

que observava a rua, trêmula,

dando adeus ao Sol,

e ao resto, detrás das caóticas grades.

Não há espera para os abraços,

para o manuseio da esperança,

aquela que tanto, tanto relutei.

Calados, enfeitam-se com adornos.

Não encantam-me, não preenchem-me,

assemelham-se com tantas coisas,

nunca com um poema.

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Maria Eduarda Caldeira

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