“21 de junho.”
Já não sou mais a mesma,
aos dezessete, num quarto azul,
às vezes, muito vulnerável,
costumava escrever, sobre o impalpável.
Hoje, as palavras particulares perdem-se
nos momentos em que me retiro
e o singular ensina-me
que sempre devo
olhar-me com mais bondade.
Contudo, ainda lembro bem,
veias em chamas, sonhos perdidos,
medos impostos e livros roubados,
a Lua sendo sempre uma boa ouvinte.
Já não sou mais a mesma,
que observava a rua, trêmula,
dando adeus ao Sol,
e ao resto, detrás das caóticas grades.
Não há espera para os abraços,
para o manuseio da esperança,
aquela que tanto, tanto relutei.
Calados, enfeitam-se com adornos.
Não encantam-me, não preenchem-me,
assemelham-se com tantas coisas,
nunca com um poema.